184 Frases de François de La Rochefoucauld

Há falsidades disfarçadas que simulam tão bem a verdade, que seria um erro pensar que nunca seremos enganados por elas.

Cada um de nós faria mais coisas, se as julgasse menos impossíveis.

Perdoamos na medida em que amamos.

Perdoamos com facilidade àqueles que nos aborrecem, mas não conseguimos perdoar àqueles a quem aborrecemos.

Nunca se é tão feliz nem tão infeliz como se imagina.

A fama dos grandes homens devia ser sempre julgada pelos meios que usaram para obtê-la.

Prometemos conforme as esperanças e agimos conforme os medos.

Se não tivéssemos tantos defeitos, não nos agradaria tanto notá-los nos outros.

Como podemos desejar que os outros guardem os nossos segredos se nós próprios não os conseguirmos guardar ?

A maneira mais segura de se ser enganado é se julgar mais esperto do que os outros.

O homem verdadeiramente honesto é aquele que não se ofende com nada.

Nada impede tanto ser natural como o desejo de parecer.

Nada é tão contagioso como o exemplo.

Apenas confessamos os pequenos defeitos para persuadir os outros de que não temos grandes.

Raramente conhecemos alguém de bom senso, além daqueles que concordam conosco.

Mais ingrato é aquele que ajuda o outro, com o intuito de ser louvado, do que aquele que não agradece.

O amor é como fogo: para que dure é preciso alimentá-lo.

A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana.

Um espírito reto terá menos dificuldade em se submeter os espíritos tortuosos, que em os conduzir.

No ciúme, há mais amor-próprio do que amor.

A confiança que temos em nós mesmos, se reflete em grande parte, na confiança que temos nos outros.

O primeiro dos bens, depois da saúde, é a paz interior.

A velhice é uma tirania que proíbe, sob pena de morte, todos os prazeres da juventude.

O mundo recompensa com mais frequência as aparências do mérito do que o próprio mérito.

O que perturba o reconhecimento dos serviços que prestámos, é que o orgulho daquele que os presta e o orgulho de quem os recebe, não podem acertar no preço do serviço.

Há pessoas tolas que se conhecem e que usam habilidosamente a sua tolice.

É melhor empregarmos o nosso espírito em suportar os infortúnios que nos acontecem do que em prever os que nos podem acontecer.

A filosofia triunfa facilmente sobre os males passados e os futuros; mas os males presentes triunfam sobre ela.

Na amizade como no amor, somos muitas vezes mais felizes por aquilo que ignoramos, que por aquilo que sabemos.

A virtude não iria tão longe se a vaidade lhe não fizesse companhia.

O interesse fala todas as línguas e desempenha todos os papéis, mesmo o de desinteressado.

Louvam-se ou criticam-se muitas coisas porque está na moda louvá-las ou criticá-las.

O que nos dá tanto azedume contra as sagacidade dos outros é que eles se julguam mais hábeis do que nós.

Há pessoas cujo único mérito consiste em dizer e fazer tolices úteis, e que estragariam tudo se mudassem de conduta.

A humildade não é mais que uma falsa submissão de que nos servimos para submeter os outros; é um artifício do orgulho, que se rebaixa para melhor se elevar. E, apesar de se transformar de mil maneiras, nunca se disfarça tão bem nem engana tão eficazmente como quando se esconde sob a capa da humildade.

Os espíritos mesquinhos se ressentem frequentemente com coisas insignificantes; os espíritos elevados as percebem, mas não se ressentem minimamente.

O que nos torna insuportável a vaidade dos outros é que ela colide com a nossa.

Há uma infinidade de comportamentos que parecem ridículos e cujas razões ocultas são muito sábias e muito sólidas.

Poucas pessoas sabem envelhecer.

A sinceridade é uma abertura do coração. A encontramos em poucas pessoas, e essa que vulgarmente por aí se vê não passa de uma astuta dissimulação para atrair a confiança alheia.

Há certas lágrimas que nos enganam depois de ter enganado os outros.

Os homens não viveriam muito tempo em sociedade se não fossem enganados uns pelos outros.

O espírito se afeiçoa por preguiça e por constância àquilo que lhe é fácil ou agradável. Este hábito limita sempre o nosso conhecimento e nunca ninguém se deu ao trabalho de engrandecer e de levar o seu espírito tão longe quanto ele poderia ir.

Não há disfarce que possa esconder por muito tempo o amor quando este existe, nem simulá-lo quando este não existe.

Aqueles que se dedicam demasiado às pequenas coisas se tornam normalmente incapazes das grandes.

Os loucos e os tolos só vêem através do seu humor.

Os velhos gostam de dar bons conselhos para se consolarem de já não estarem em estado de dar maus exemplos.

A timidez é um defeito que é perigoso repreender nas pessoas que pretendemos corrigir.

O bom gosto vem mais do discernimento que do espírito.

O desejo de falar de nós e de mostrar os nossos defeitos sob o ângulo que mais nos convém, constitui boa parte da nossa sinceridade.

Passamos muitas vezes do amor à ambição, mas nunca regressamos da ambição ao amor.

Há um excesso de bens e de males que ultrapassa a nossa sensibilidade.

As pessoas falsamente honestas são as que escondem os seus defeitos dos outros e de si mesma. As pessoas realmente honestas são as que os conhecem bem e os confessam.

Só sentimos o bem e o mal que nos acontece na proporção do nosso amor-próprio.

Quando os amigos nos enganaram, não devemos senão indiferença às suas manifestações de amizade, mas devemos sempre sensibilidade às suas desgraças.

As virtudes se perdem no interesse como as águas do rio se perdem no mar.

No amor, quem se cura primeiro é quem fica mais bem curado.

Quem vive sem loucura não é tão sensato como pensa.

Sentiríamos frequentemente vergonha das nossas mais belas ações, se o mundo conhecesse todos os motivos que as fundamentaram.

A calma dos sábios nada mais é do que a arte de guardar a agitação que vai nos seus corações.

Quem não encontra a felicidade em si mesmo, é inútil procurá-la em outro lado.

O silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo.

A maior parte das pessoas julga os homens pela sua fama ou pela sua fortuna.

Há pessoas desagradáveis apesar das suas qualidades e outras encantadoras apesar dos seus defeitos.

Só se pode gostar de algo tendo a nossa pessoa como referência e, por isso, seguimos os nossos gostos e o nosso prazer quando preferimos os nossos amigos a nós mesmos. Mas é só através desta preferência que a amizade pode ser verdadeira e perfeita.

A nossa inveja dura sempre mais tempo que a felicidade daqueles que invejamos.

O mal que fazemos não desperta tantas perseguições e ódio como as nossas boas qualidades.

A nossa desconfiança justifica o engano alheio.

Perdoamos facilmente aos nossos amigos os defeitos que não nos dizem respeito.

É mais fácil conhecer o homem em geral que um homem em particular.

É tão fácil enganar a si mesmo sem perceber, como é difícil enganar os outros sem que percebam.

O elogio é uma moeda falsa que só tem valor por vaidade nossa.

Todo o cuidado que tenhamos em cobrir as nossas paixões, seja com a máscara da piedade seja com a da honra, é pouco, elas acabam por romper sempre esses véus.

A vaidade nos leva a fazer mais coisas que não gostamos do que a razão.

Apenas quem é desprezível pode ter medo de ser desprezado.

Quem recusa um elogio é porque procura ser elogiado duas vezes.

Há péssimas qualidades que dão grandes talentos.

Nada é mais insuportável para o nosso orgulho do que a constatação do fato de reprovarmos algo que aprovámos anteriormente.

Nos consolamos muitas vezes das nossas infelicidades pelo prazer que nos dá exibi-las.

A verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que é preciso e em só dizer o que é preciso.

Na adversidade dos nossos melhores amigos, há algo que não nos desagrada.

A calma ou a agitação do nosso humor não depende tanto do que nos acontece de mais importante na vida, como da disposição cômoda ou desagradável das pequenas coisas que nos acontecem todos os dias.

Apesar dos homens se gabarem dos seus grandes feitos, estes não são, a maior parte das vezes, resultado de grandes idéias, mas somente do acaso.

Quando exageramos a ternura que os nossos amigos sentem por nós, é quase sempre menos por reconhecimento, que pelo desejo de valorizar o nosso mérito.

A inveja é mais irreconciliável do que o ódio.

Temos mais preguiça no espírito do que no corpo.

Nada pode ter mais valor do que fazermos sem testemunhas aquilo que seríamos capazes de fazer diante de toda a gente.

O grande prazer que nos dá falarmos de nós próprios deve nos fazer recear não darmos nenhum aos que nos ouvem.

O orgulho não quer dever e o amor próprio não quer pagar.

Estamos muito longe de conhecer tudo o que as nossas paixões nos levam a fazer.

Nos gabamos de ter defeitos opostos àqueles que temos: quando somos fracos, nos gabamos de ser teimosos.

Quando ainda temos o coração agitado pelos restos de uma paixão, estamos mais perto de nos entregarmos a outra do que quando estamos inteiramente curados.

À força de nos disfarçarmos perante os outros acaba por nos mascarar perante nós mesmos.

Os desentendimentos não durariam muito se não houvesse um único ofendido.

A prudência e o amor não se fizeram um para o outro; à medida que o amor aumenta, a prudência diminui.

O desejo de ser lamentado ou admirado, constitui muitas vezes a maior parte da nossa confiança.

A natureza parece ter escondido no fundo do nosso espírito talentos e habilidades que desconhecemos; só as paixões conseguem trazê-las à superfície, e nos dar às vezes ideias mais acertadas e concretas que a arte não saberia fazer.

Qualquer que seja a tendência do mundo para julgar mal, ele perdoa mais frequentemente o falso mérito do que faz justiça ao verdadeiro.

Um homem a quem ninguém agrada é bem mais infeliz do que aquele que não agrada a ninguém.

Todas as nossas qualidades são incertas e duvidosas, no bem como no mal, e estão quase sempre à mercê das ocasiões.

Só aos grandes homens cabe terem grandes defeitos.

Não se deve avaliar o mérito de um homem pelas suas grandes qualidades, mas pelo que delas faz.

Há muitas vezes mais orgulho do que piedade quando lamentamos as desgraças dos nossos inimigos.

Só devíamos nos surpreender de ainda nos podermos nos surpreender.

Não desejaríamos nada com ardor, se conhecêssemos bem o que desejamos.

Aqueles que tiveram grandes paixões sentem-se sempre felizes e infelizes por se terem curado delas.

Ainda há mais pessoas desinteressadas do que sem interesse.

Há bons casamentos, mas deliciosos não.

Preferimos até dizer mal de nós próprios do que estarmos calados.

Os defeitos do espírito aumentam com a idade, tal como os do rosto.

Quando a fortuna nos surpreende nos elevando a um cargo ao qual não nos conduziu de degrau em degrau, ou que alcançamos sem esperar, é quase impossível desempenhá-lo adequadamente e parecer digno de o ocupar.

A fraqueza se opõe mais à virtude que o vício.

Não há menos eloquência no tom da voz, nos olhos e no ar da pessoa, que na escolha das palavras.

O amor, por muito agradável que seja, agrada mais pelas formas por que se exprime, do que por si mesmo.

Tememos tudo como mortais, mas desejamos tudo como se fossemos imortais.

Normalmente não temos a força suficiente para obedecer inteiramente à nossa razão.

Chegamos sempre como novos a todas as idades da vida e muitas vezes com falta de experiência, apesar do número de anos.

Por muita vergonha que tenhamos merecido, podemos quase sempre restabelecer a nossa reputação.

Ninguém merece ser louvado pela sua bondade, se não tiver a coragem de ser mau: qualquer outra forma de bondade não é mais que preguiça ou de ausência de vontade.

A esperança, enganadora como é, serve contudo para nos levar ao fim da vida pelos caminhos mais agradáveis.

Cometem-se muito mais traições por fraqueza do que em consequência de um forte desejo de trair.

Muitas vezes se pratica o bem para se poder praticar o mal impunemente.

Se julgarmos o amor pela maior parte dos seus efeitos, ele assemelha-se mais ao ódio do que à amizade.

Somos quase tão difíceis de contentar quando temos muito amor como quando não temos nenhum.

Um verdadeiro amigo é o maior de todos os bens e igualmente, de todos, aquele que menos nos preocupamos em adquirir.

O nosso amor-próprio suporta com mais impaciência a condenação dos nossos gostos que a das nossas opiniões.

A moderação não passa do medo de provocar inveja e o desprezo que merecem os que se vangloriam da sua boa sorte. É uma vã ostentação do nosso espírito; enfim, a moderação dos homens no seu ponto mais elevado é apenas o desejo de parecerem mais magnânimos do que a sua própria boa fortuna.

Não há ninguém que não se envergonhe de ter amado outro, quando o amor já acabou entre eles.

É prova de inteligência saber ocultar a nossa inteligência.

Quanto mais se ama uma mulher mais pronto se está a odiá-la.

O que faz com que os amantes nunca se entediem de estar juntos é o falar sempre de si próprios.

Há pessoas más que seriam menos perigosas se não tivessem nenhuma bondade.

Só as pessoas que têm firmeza são capazes de verdadeira doçura; as que parecem doces não têm geralmente senão fraqueza, que se converte facilmente em azedume.

Aqueles que foram iludidos pela nossa astúcia, nunca nos parecem tão ridículos como parecemos a nós mesmos quando a astúcia dos outros nos iludiu.

Podemos parecer grandes, num cargo abaixo do nosso mérito, mas parecemos frequentemente pequenos num cargo maior do que nós.

O maior defeito da perspicácia não é tanto não atingir o alvo como de ultrapassá-lo.

Cada sentimento tem um tom de voz, gestos e expressões que lhe são próprios. E é esta relação, boa ou má, agradável ou desagradável, que faz que as pessoas agradem ou desagradem.

O indício mais seguro de se ter nascido com grandes qualidades é ter nascido sem inveja.

Geralmente os espíritos medíocres condenam tudo o que está para além do seu alcance.

A conveniência é a menor de todas as leis, e a mais seguida.

As amizades renovadas exigem mais cuidados do que aquelas que nunca foram interrompidas.

A fortuna e o humor governam o mundo.

Não temos a coragem de admitir em público que não temos defeitos e que os nossos inimigos não têm qualidades; porém, intimamente, não andamos longe de acreditar nisso.

Por melhor que digam de nós, não nos dão nenhuma novidade.

Engana-se quem pensa que só as paixões violentas como a ambição e o amor triunfam sobre as outras. A preguiça, por frouxa que seja, nem por isso deixa de se impor; sobrepõe-se a todos os propósitos e a todas as ações da nossa vida; destrói e consome insensivelmente as paixões e as virtudes.

As pessoas fracas não podem ser sinceras.

A vingança procede sempre da fraqueza da alma, que não é capaz de suportar as injúrias.

Falta muito para que a inocência tenha tanta proteção como o crime.

Os nossos inimigos se aproximam mais da verdade nas sentenças que proferem sobre nós, do que nós mesmos.

A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.

A ausência apaga as pequenas paixões e fortalece as grandes.

Parece que o amor-próprio é enganado pela bondade e se esquece de si mesmo quando trabalhamos pelos outros. E, no entanto, é tomar o caminho mais seguro para atingir os seus fins; é emprestar a juros, a pretexto de dar; é, finalmente, conquistar todos de maneira sutil e delicada.

A verdade não faz tanto bem neste mundo como as suas aparências fazem mal.

O nosso arrependimento não é tanto um remorso do mal que cometemos, mas um temor daquilo que nos pode acontecer.

Nunca se deseja tão ardentemente como quando se deseja com a razão.

Se a vaidade não destrói completamente as virtudes, pelo menos abala-as todas.

Não há tolos mais incômodos que aqueles que têm espírito.

A fineza do espírito consiste em pensar com honestidade e com delicadeza.

O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele.

Por vezes, nos custa menos ser enganados pelas pessoas que amamos, que ser desenganados por elas.

A avareza produz muitas vezes efeitos contrários: há um número infinito de pessoas que sacrificam todo o seu bem-estar a esperanças duvidosas e remotas, outras que desprezam grandes benefícios futuros a pequenos interesses presentes.

Os velhos loucos são mais loucos que os jovens.

Gostamos sempre de quem nos admira, mas nem sempre gostamos daqueles que admiramos.

Há um certo reconhecimento profundo que não nos desobriga de favores recebidos, mas que faz até que os nossos amigos nos devam quando lhes pagamos o que lhes devemos.

O amor-próprio aumenta ou diminui as qualidades dos nossos amigos na exata proporção da satisfação que eles nos dão e nós julgamos o seu mérito pelo modo como eles se dão conosco.

O drama do homem é o de ser limitado nos meios e infinito nos desejos; assim, não pode ser plenamente feliz.

O amor-próprio é o maior de todos os lisonjeadores.

O que torna os tormentos da vergonha e da inveja tão agudos, é que a vaidade não serve para os suportar.

Só achamos que as outras pessoas têm bom senso quando são da nossa opinião.

Não há defeitos que não sejam menos desculpáveis que os meios de que nos servimos para os ocultar.

Há heróis no mal como no bem.

Todas as paixões nos levam a cometer erros, mas o amor nos faz cometer os mais ridículos.

Ninguém pode se pronunciar acerca da sua coragem quando nunca esteve em perigo.

Por mais descobertas que se tenham feito nos domínios do amor-próprio, ainda ficarão muitas terras por descobrir.

Não basta ter boas qualidades, é necessário tê-las com moderação.

Há uma certa espécie de amor cujo excesso impede o ciúme.

A intenção de nunca enganar nos torna vulneráveis ao engano.

Os amantes apenas vêem os defeitos das amadas quando o seu encantamento acaba.

Se não tivéssemos orgulho, não nos queixaríamos dos outros.

A amizade, depois da sabedoria, é a mais bela dádiva feita aos homens.

Podemos ser mais espertos do que qualquer outra pessoa, mas não do que todas as outras.

A mente é sempre enganada pelo coração.

Quando o nosso ódio é demasiado vivo, nos colocamos abaixo daqueles que odiamos.

O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram.