Eu não sabia o que na madureza aprenderia: que todas as coisas quando acabam são substituídas por outras, que a vida não se reduz, mas cresce. E é em tudo um milagre.
Que a gente se divirta sem se matar, que ame sem se contaminar, que aprenda sem se enganar, que viva sem se vender.
Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
A casa onde eu nasci, embora já não seja minha, permanece intacta em mim como a escultura de uma caravela em uma garrafa: uma casa dentro da memória. Nunca mais foi como aquele o cheiro dos lençóis limpos nem o aroma das comidas, a música das vozes amadas e o crepitar das lareiras, nunca mais a mesma sensação de acolhimento, nunca mais pertencer anada com tamanha certeza.
Sei que todos, algum dia, acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada: vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso.
Acho que a vida é um processo… É como subir uma montanha. Mesmo que no fim não se esteja tão forte fisicamente, a paisagem visualizada é melhor.
A vida é uma casa que construímos com as próprias mãos, criando calos, esfolando os joelhos, respirando poeira. Levantamos alicerces, paredes, aberturas e telhado. Podem ser janelas amplas para enxergar o mundo, ou estreitas para nos isolarmos dele. Pode haver jardins, pátio, por pequenos que sejam, com flores, com balanços, para a alegria; ou só com lajes frias, para melancolia. Vendavais e terremotos abalam qualquer estrutura, mas ainda estaremos nela, e ainda poderemos consertar o que se desarrumou.
Perder, dói! Não adianta dizer não sofra, não chore; só não podemos ficar parados no tempo chorando nossa dor diante das nossas perdas.
Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
…Sou boa sou má, sou verdadeira sou desonesta, sou lúcida sou louca, cresço ou permaneço, amo ou abandono, ajudo ou torturo - e assim,com o leque das possibilidades, me foi dado o tormento das opções…
Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu.
Carregamos muito peso inútil. Largamos no caminho objetos que poderiam ser preciosos e recolhemos inutilidades. Corremos sem parar até aquele fim temido, raramente nos sentamos para olhar em torno, avaliar o caminho, e modificar ou manter nosso projeto pessoal.
Tanta gente bandida vivendo feito rei, e tanta gente boa crucificada quando quer fazer o bem e consertar o mal.
Que a gente possa ser mais irmão, mais amigo, mais filho e mais pai ou mãe, mais humano, mais simples, mais desejoso de ser e fazer feliz.
Se te pareço ausente, não creias:hora a hora minha dor agarra-se aos teus braços,hora a hora meu desejo revolve teus escombros,e escorrem dos meus olhos mais promessas.Não acredites nesse breve sono;não dês valor maior ao meu silêncio;e se leres recados numa folha branca,Não creias também: é preciso encostarteus lábios nos meus lábios para ouvir.Nem acredites se pensas que te falo:palavrassão meu jeito mais secreto de calar.
Seja como for, não sou saudosista. Acho esquisito falar ‘no meu tempo’, porque nosso deve ser o hoje. Somos tão fixados no mito da eterna juventude que, depois dos anos, nem o tempo é mais nosso, somos exilados da própria vida.
Eu sabia que era preciso tempo. Cada perda tem sua hora de acabar, cada morto seu prazo de partir, e não depende muito da vontade da gente.
A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura.
Se estamos num barco, é bom escutar as águas, apreciar as margens, tentar enxergar o porto de chegada: não com ânimo sombrio, mas como quem, em plena viagem, avalia o próximo cais e tenta se abrir para o novo que ali nos aguarda.
A cada dia, mesmo sem saber, e sem querer, estamos nos criando. Ninguém pode nos dizer que será fácil. O fácil pode ser desinteressante, e merecemos ao menos alguma vez fazer, querer, ser, o interessante, o audacioso, apesar dessa incrível sensação de fragilidade que nos acompanha.
Um anjo vem todas as noites:senta-se ao pé de mim, e passa sobre meu coração a asa mansa ,como se fosse meu melhor amigo.Esse fantasma que chega e me abraça(asas cobrindo a ferida do flanco)é todo o amor que resta entre ti e mim, e está comigo.
O tempo está sempre passando, é como água de um rio, a cada instante tudo muda. Até a gente não é a mesma pessoa de um segundo atrás
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
E a dor faz parte.
... Uma boa faxina nos armáriosdo coração traz grande alívio:botamos fora as chateações ouas deixamos de lado por um tempo,e vamos lidar com as coisas graves.Aos poucos descobrimosque respiramos melhor.Podemos até mesmo sonhar.
Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
A vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. eventualmente reprogramada. conscientemente executada. muitas vezes ousada.
O tempo?, disse um personagem meu: precisamos fazer dele nosso animal de estimação, ou ele nos devora.
Precisamos de pai e de mãe até quando adultos. Sua presença e apoio podem parecer menos essenciais com o correr do tempo, mas com eles, se relação for boa, somos mais completos – e para isso não há idade. Morta minha velha mãe, quando eu tinha mais de sessenta anos, dei-me conta que não tinha mais a quem chamar de “mãe” e foi uma dor estranha. Algo tinha mudado na minha condição. Eu nunca mais seria a mesma.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez.
Apesar das minhas fragilidades, avanço.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Não saber exatamente o que queremos, mas procurar, achar e perder, econtinuar buscando, na mais saudável inquietação, é que torna a vidatão fascinante, e faz valer a pena.Lya LuftPostado por Miryam Gotti
Apesar de todos os medos, escolho a ousadia. Apesar dos ferros, construo a dura liberdade. Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança. Eu, (..........), sou assim. Pelo menos assim quero fazer: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper. A máscara do Arlequim não serve apenas para o proteger quando espreita a vida, mas concede-lhe o espaço de a reinventar. Desculpem, mas preciso lhes dizer:EU quero o delírio.
As pessoas são responsáveis e inocentes em relação ao que acontece com elas, sendo autoras de boa parte de suas escolhas e omissões.
Sem que eu soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, com o branco dos olhos reluzindo na penumbra. Se eu interrogava, o que você tem amor? Ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele acordo sem palavras.Nunca imaginei o mal que o roía.
Andamos tão desencantados que ser decente parece virtude, ser honesto ganha medalha e ser mais ou menos coerente merece aplausos.
Que não temas amar, sabendo que embora a vida seja sombra e luz num palco de perplexidades, aqui estarei para que venhas, belo animal alado no teu voo, alta asa dourada em teu aroma. E se souberes querer, que em mim tenhas pouso e pasto - e sacrilégio.
Se cada um cultivar afeto, beleza e lealdade em seu ambiente, por pequeno que seja, isso há de espalhar claridade no mundo.
Falo daquela pessoa para quem posso telefonar não importa onde ela esteja, nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: Estou mal, preciso de você. E ela estará comigo, pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
Uma coisa não podemos perder, e se perdermos vamos recuperar, e se nunca tivemos é preciso aprender: o humor, sem o qual tudo acaba com cheiro de naftalina em armários longamente fechados.
Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos que uma em outra pode se trocar, sem que alguém de fora o percebesse nunca.
Vamos nos acostumar a viver na estranheza, na esquisitice, protegendo-nos como podemos de atos, fatos e idéias bizzaros.
O Bosque existe: é um dos meus lugares mágicos, onde minha imaginação anda de mãos dadas com a realidade.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo.
As muitas fomes é o que impulsiona o sonho. Fome de nos sentirmos bem na nossa pele de espécie pensante.
Eu queria que a gente fosse pouco mais construtivo, mais aberto as possibilidades boas. Queria que em vez de hostis e agressivos fôssemos mais gentis e *Civilizados*.
Saudável seria a família a um tempo protetora e estimulante, que nesse difícil equilíbrio deixasse o filho criar asas e, na hora certa, sair do ninho – continuando atenta sem ser controladora: uma asa quebrada, uma pata ferida, um desastre poderiam ser consertados até mesmo numa breve visita.
Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
No relacionamento amoroso, familiar ou amigo, acredito que partilhar a vida com alguém que valha realmente a pena é enriquecê-la. Permanecer em uma relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida.
O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeita audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância. Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes. A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura. Às vezes é preciso recolher-se.
A vida não tece apenas uma teia de perdas, mas nos proporciona uma sucessão de ganhos. O equilíbrio da balança depende muito do que soubermos e quisermos enxergar.
A crise da autoridade, começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos. Estamos iludidos por uma série de psIcologismos falsos. Muito crime, pouco castigo! Leis antiquadas, ou insuficientes. Assim chegamos, como reféns em casa ou ratos assustados na rua.
Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: Parar pra pensar, nem pensar!
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar, é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma.
Pertencer, ser igual, fazer parte.Mas também compreendi que muitas das minhas indagações não tinham interesse para os outros. Era preciso ser duas: a que voava no vento das indagações, e a que passeava com os colegas em grupinhos no pátio na hora do recreio, falando coisas que meninas falavam. Mais tarde eu saberia que certas experiências se partilham - até mesmo sem palavras - só com gente da mesma raça. O que não significa nem cor nem formato de olho nem tipo de cabelo, mas o indefinível parentesco da alma.Mar de dentro.
Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos.
Podemos inventar qualquer coisa que nos dê alegria, um amigo, um caminho. Qualquer coisa que nos ajude a escapar.
Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto: qualquer sinal é um bom presságio.
Não é preciso ter uma alma juvenil na maturidade ou na velhice, mas uma faísca de alegria, uma brecha para imaginação, vontade de dançar sem música. Isso vale mais do que todos os recursos da estética, da medicina, da psicologia, das mais belas viagens, e mesmo dos mais tocantes afetos.
Cultivo alegrias no jardim onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos...
O tempo faz florescer paixões que fenecem logo adiante; ou transfigura um amor intenso na generosa árvore de uma longa boa relação. Mais uma vez, as contradições do tempo são as nossas: ele mata, ou eterniza, e para sempre estará conosco aquele cheiro, aquele toque, aquele vazio, aquela plenitude, aquele segredo.
Deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem.
... enfrentamos o não saber cotidiano, de coração aberto e o ânimo, seja como for, ainda firme. Até porque não temos outra saída.
Não importa quanto tempo já se passou: eu sou a mesma, o amor é o mesmo, e a esperança.
Cada indivíduo, ainda que não queira e nem saiba,participa do processo dinâmico que é a vida:não somos inteiramente fruto da genética física epsíquica, na qual acredito, nem do meio ondenascemos e crescemos. Somos também resultadode nossos trabalhos e frustrações, e também dasalegrias. Portanto, por algumas coisas somos responsáveis.
Meu coração se transforma a cada experiência. Mas ainda palpita, sobressalta e se assusta. Ainda é vulnerável como quando eu tinha dez anos.
Vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso.
Somos as escolhas que fazemos e as que omitimos, a audácia que tivemos e os fantasmas aos quais sacrificamos a possível alegria e até pessoas a quem amamos; a vida que abraçamos e a que desperdiçamos. Em suma, fazemos a escritura da nossa complicada história.
Primeiro, não queremos perder É lógico não querer perder. Não deveríamos ter de perder nada: Nem saúde, nem afetos, nem pessoas amadas. Mas a realidade é outra: Experimentamos uma constante alternância de ganhos e perdas. Segundo: Perder dói mesmo. Não há como não sofrer. É tolice dizer não sofra, não chore. A dor é importante. O luto também. Terceiro: Precisamos de recursos internos para enfrentar a tragédia e a dor. A força decisiva terá que vir de nós, de onde foi depositada a nossa bagagem. Lidar com a perda vai depender do que encontrarmos ali. A tragédia faz emergir forças inimagináveis em algumas pessoas. Por mais devorador que seja, o mesmo sofrimento que derruba faz voltar a crescer. Quando é hora de sofrer não temos de pedir licença para sentir, e esgotar, a dor. O luto é necessário, ou a dor ficará soterrada, seu fogo queimando nossas últimas reservas de vitalidade e fechando todas as saídas. Aprendi que a melhor homenagem que posso fazer a quem se foi é viver como ele gostaria que eu vivesse: bem, integralmente, saudavelmente, com alegrias possíveis e projetos até impossíveis. Primeiro, não queremos perder.
Termino o livro e fecho o computador sabendo que por mais que os escritoresescrevam, os músicos componham e cantem, os pintores e escultores joguemcom formas, cores e luzes -, por mais que o contexto paralelo da arte expresse oprofundo contraditório sentimento humano, embora dance à nossa frente enos convoque até o último fio de lucidez, o essencial não tem nome nem forma:é descoberta e assombro, glória ou danação de cada um.
Pois viver deveria ser - até o último pensamento e derradeiro olhar - transformar-se.
Cuidai naturalmente de seu povo, onde quer que seja, não seria a melhor propaganda de bons políticos?
Em todas as idas e vindas, obscuramente eu sempre sabia: embora tudo mude , nada muda por que tudo permance aqui dentro, e fala comigo, e me segura no colo quando eu mesma não consigo sustentar. E depois me solta de novo, para que eu volte a andar pelos meus próprios pés. A vida é mãe nem sempre carinhosa, mas tem uma vara de condão especial: o mistério com que embrulha todas as coisas, e algumas deixa invisíveis.
Plantar um bosque na alma, e curtir a sombra, o vento, as crianças, o sossego. Não precisam ser reais. Eu até acho que a realidade não existe: existe o que nós criamos, sentimos, vemos ou simplesmente imaginamos.
O tempo pode ser visto como um assassino em série: suas correntezas levam pessoas, esperanças, possibilidades. Mas também é um Papai Noel bondoso: quem vou encontrar naquela esquina? Que horizonte depois daquela curva, que visões, que experiência, que esperanças? Indagar é um desafio permanente!!O tempo transforma, a memória preserva, a morte ao fim absorve. (Ou devo escrever absolve?)(Gramado, O Bosque, janeiro de 2014)
Mudar, por pouco que seja, faz parte da nossa pequena guerra individual e cotidiana.
Foram-se os amores que tive ou que me tiveramPartiram num cortejo silencioso e iluminadoO tempo me ensinou a não desistir da vidaCultivo alegrias no jardim onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos
A distinção entre verdade e invençãonão importa muito. Mais do que o gesto,interessa como ele foi recebido. Mais do que a palavra, nos influencia como ela foi ouvida. Mais do que o fato, vale onde, como e quantoele nos tocou.
Talvez o melhor seja cerrar os dentes e fechar as mãos, abrir bem os olhos, e os ouvidos, pois a verdade ajuda mais que as ilusões
O verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos aguenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.
A vida é como esta Casa Vermelha: em seu bojo roído pelo tempo, habitado de ratos e infectado de angústias, leva toda uma raça de exilados. Cada um, com sua grande nostalgia, sua insaciável sede, tenta adaptar-se como pode. Alguns jamais conseguirão.(Exílio)
O ponto cego é onde a gente sempre pode dizer: não.O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse não primeiro.
Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização.
SE CADA UM CULTIVAR AFETO, BELEZA E LEALDADE EM SEU AMBIENTE, POR PEQUENO QUE SEJA, ISSO HÁ DE ESPALHAR CLARIDADE NO MUNDO
Ardo na minha contradição, desabrocho na minha dúvida, faço da vida um presságio e da verdade um pressentimento.histórias do tempo
A quatro mãos escrevemos o roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu.Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério.
Mais tarde eu saberia que certas experiências se partilham - até mesmo sem palavras – só com gente da mesma raça. O que não significa nem cor, nem formato de olho, nem tipo de cabelo, mas o indefinível parentesco da alma.
Penso que no curso de nossa existência precisamos aprender essa desacreditada coisa chamada ser feliz ...
Vou procurar um amor bom para mim - no qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro - se minha imagem interior me levar a isso. O amor mais que tudo nos revela: manifesta nossas tendências, o que preferimos e escolhemos para nós.
A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada.
... acho que a vida é um processo... É como subir uma montanha. Mesmo que no fim não se esteja tão forte fisicamente, a paisagem visualizada é melhor.
É que, além de aflitos e desorientados pelo excesso de informação inútil, somos muito superficiais. Falta-nos o hábito de observar e refletir. Assustados com responsabilidade, escolha e decisão, despreparados como adolescentes, nos desviamos do espelho que faz olhar para dentro de nós. Cada vez mais amadurecemos tarde ou mal. Somos crianças tendo crianças.
Com as perdas, só há um jeito: perdê-las. Com os ganhos, o proveito é saborear cada um como uma boa fruta de estação.
Uma boa faxina nos armários do coração traz grande alívio: botamos fora as chateações ou as deixamos de lado por um tempo, e vamos lidar com as coisas graves. Aos poucos descobrimos que respiramos melhor. Podemos até mesmo sonhar.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Nem acredites se pensas que te falo: palavras são meu jeito mais secreto de calar.
Sonhos são feitos de espuma.
A esperança me chama, e eu salto a bordo como se fosse a primeira viagem. Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto: qualquer sinal é um bom presságio. Seja como for, eu vou, pois quase sempre acredito: ando de olhos fechados feito criança brincando de cega. Mais de uma vez sai ferida ou quase afogada, mas não desisto. A dor eventual é o preço da vida...
Porque entre o sim e o não é só um sopro, entre o bom e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos - e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna simples e tão indiferente.
Ali posso ficar mais tempo quieta, tentando compreender o que é um mar. Escutando, contemplando ou mergulhando nele, ou observando-o do alto dos morros quando se revolve e arfa, aprendendo que o mar não é apenas movimento e rumor. O mar, como tudo o mais - também as pessoas -, é o seu próprio escondido que à noite chega à superfície, procurando não se sabe o quê, talvez buscando apenas quem o escute e entenda. Mar de dentro.