Julgo poder ser verdadeiro o fato de a sorte ser árbitro de metade das nossas ações, mas que, mesmo assim, ela nos permite governar a outra metade ou parte dela.
O desejo de conquista é coisa realmente muito natural e comum; e, sempre que os homens conseguem satisfazê-lo, são louvados, nunca recriminados; mas, quando não conseguem e querem satisfazê-lo de qualquer modo, aí estão o erro e a recriminação.
Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que pode resultar dela no futuro.
Quanto mais próximo o homem estiver de um desejo, mais o deseja; e se não consegue realizá-lo, maior dor sente.
São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.
Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos.
Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal.
O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta.
Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade e não a destrói, espera para ser destruído por ela.
Não é a violência que restaura, mas a violência que arruína que é preciso condenar.
Uma república sem cidadãos de boa reputação não pode existir nem ser bem governada; por outro lado, a reputação dos cidadãos é motivo de tirania das repúblicas.
Onde há uma vontade forte, não pode haver grandes dificuldades.
Os homens hesitam menos em ofender quem se faz amar do que em ofender quem se faz temer; porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação que, por serem os homens pérfidos, é rompido por qualquer ocasião em benefício próprio; mas o temor é mantido por um medo de punição que não abandona jamais.
Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição.
Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha.
Quem seja a causa de alguém se tornar poderoso, desgraça-se a si próprio: pois esse poder é produzido por si quer através de engenho quer de força; e ambos são suspeitos para aquele que subiu à posição de poder.
Precisando um príncipe saber usar bem o animal, deve tomar como exemplo a raposa e o leão; pois o leão não é capaz de se defender das armadilhas, assim como a raposa não sabe se defender dos lobos. Deve, portanto, ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para espantar os lobos.
Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem se vingar das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança.
Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal.
Um povo corrompido que atinge a liberdade tem maior dificuldade em mantê-la.
Dizem a verdade aqueles que afirmam que as más companhias conduzem os homens à forca.
As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam mais bem saboreados.
Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.
Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe, e para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo.
Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu.
Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos.
Toda a ação é designada em termos do fim que procura atingir.
Nunca se deve deixar que aconteça uma desordem para evitar uma guerra, pois ela é inevitável, mas, sendo protelada, resulta em sua desvantagem.
Não há nada mais certo que nossos próprios erros. Vale mais fazer e arrepender, que não fazer e arrepender
Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas. O reformador tem inimigos em todos os que lucram com a velha ordem e apenas defensores tépidos nos que lucrariam com a nova ordem.
Quero ir para o inferno, não para o céu. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e príncipes. No céu, só terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apóstolos.
O verdadeiro grande homem é sempre o mesmo sob todas as circunstâncias.
Os homens em geral formam as suas opiniões guiando-se antes pela vista do que pelo tato; pois todos sabem ver, mas poucos sabem sentir.
O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons.
A natureza faz poucas pessoas fortes, mas esforço e treinamento fazem muitas.
Nunca tente ganhar pela força o que pode ser conquistado pelo engano.
Não há outra maneira de se proteger contra a bajulação do que fazer os homens entenderem que dizer a verdade não vai ofender você.
O príncipe prudente adotará, portanto, um terceiro caminho, escolhendo como conselheiros homens sábios e dando-lhes inteira liberdade para falar a verdade.
Nas ações de todos os homens, especialmente nas dos príncipes, quando não há juiz a quem apelar, o que vale é o resultado final.
É um vício comum a todos os homens o não se importar com a tempestade no perdurar da bonança.
O tempo lança à frente todas as coisas e pode transformar o bem em mal e o mal em bem.
Um príncipe sábio deve observar modos similares e nunca, em tempo de paz, ficar ocioso.
Quem do prazer se priva e vive entre tormentos e fadigas, do mundo não conhece os enganos.
Mesmo as leis bem ordenadas são impotentes diante dos costumes.
Não há nada mais difícil ou perigoso do que tomar a frente na introdução de uma mudança.
A política tem pelo menos duas caras. A que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder.
As armas devem ser usadas em última instância, onde e quando os outros meios não bastem.