Responsabilidade: um fardo descartável e facilmente transferido para os ombros de Deus, do Destino, da Sina, da Sorte, ou do nosso vizinho. Nos tempos da astrologia, era comum descarregá-lo para cima de uma estrela.
Dia: um período de vinte e quatro horas, geralmente mal gastas.
Vizinho: indivíduo que, segundo os mandamentos, devemos amar como a nós próprios, embora ele faça tudo o que sabe para nos levar à desobediência.
O egoísta é alguém desprovido de consideração pelo egoísmo dos outros.
Enganar: dizer ao povo soberano que não vamos roubar se formos eleitos.
Casamento: cerimônia na qual duas pessoas passam a ser uma, uma passa a ser nada e nada passa a ser sustentável.
O egotista é um sujeito com mau gosto, mais interessado em si próprio do que em mim.
Intolerante: indivíduo que está obstinada e zelosamente vinculado a uma opinião que não partilhamos.
Homem: um animal tão perdido na contemplação voluptuosa daquilo que pensa que é que se esquece de refletir sobre aquilo que deveria ser. A sua atividade principal é o extermínio dos outros animais e da sua própria espécie, que, no entanto, se multiplica com tal rapidez que já infesta todo o mundo habitável.
Hipócrita: indivíduo que, ao professar virtudes que não respeita, assegura as vantagens de parecer ser aquilo que despreza.
Orar. Pedir que as leis do universo sejam anuladas em favor de um único postulante, que se confessa indigno.
Insensível: dotado de grande força moral para enfrentar os problemas que acontecem aos outros.
Divórcio: um toque de corneta que separa os combatentes, fazendo-os lutar à distância.
Riso: uma convulsão interior, que produz uma distorção da expressão facial e que é acompanhada por sons desarticulados. É contagioso e, embora intermitente, incurável.
Culpado: o outro indivíduo.
Ignorante: uma pessoa que desconhece certas coisas que nos são familiares, conhecendo outras coisas das quais nunca ouvimos falar.
Conversa: feira na qual se expõem os dotes mentais mais inúteis, estando cada expositor tão ocupado com a arrumação dos seus bens que nem consegue dar atenção aos do colega do lado.
Inimigo: uma pessoa que é instigada pela sua natureza maléfica a negar os nossos méritos ou a exibir méritos superiores aos nossos.
Vencer: criar um inimigo.
Futuro. Esse período de tempo no qual os nossos negócios prosperam, os nossos amigos são verdadeiros e a nossa felicidade está garantida.
Filosofia: um caminho com muitas estradas que vai de lugar nenhum a nada.
Conservador: um estadista que gosta das coisas más que já existem; por oposição ao Liberal, que as quer substituir por outras.
Ajudar: criar um ingrato.
Sucesso: o único pecado imperdoável cometido contra os nossos semelhantes.
Presente: a parte da eternidade que assinala a divisão entre o domínio da frustração e o reino da esperança.
Médico: um cavalheiro que prospera com doenças e morre com saúde.
Crítico: Pessoa que se vangloria de ser de satisfação difícil, porque ninguém o tenta agradar.
Dinheiro: uma benção que não nos traz vantagem exceto quando nos separamos dele.
Pintura é a arte de proteger superfícies planas contra o tempo e de expô-las ao crítico.
A política é a condução dos negócios públicos para proveito dos particulares.
Definição de cérebro: um aparelho com o qual pensamos que pensamos.
Admiração. O nosso reconhecimento cortês de que outra pessoa se assemelha a nós.
Casa: um edifício oco, construído para ser habitado pelo homem, pelo rato, pela barata, pela mosca, pelo mosquito, pela pulga e pelo micróbio.
Cínico: um malandro cuja visão deficiente lhe apresenta as coisas como elas são, não como deviam ser.
Epitáfio é uma inscrição em um túmulo que mostra que as virtudes adquiridas pela morte têm efeito retroativo.
Reflexão: uma ação da mente, através da qual obtemos uma visão mais lúcida da nossa relação com as coisas passadas, ficando assim mais preparados para evitar os perigos que não voltaremos a encontrar.
Benevolência: oferecer cinco euros para o conforto do nosso avozinho que está no asilo, publicitando-o depois no jornal.
Senilidade: imbecilidade provocada pela velhice, que se manifesta habitualmente sob a forma de eloquência.
Litigante: uma pessoa que se prepara para trocar a pele pela esperança de ficar com os ossos.
Entusiasmo: uma doença de juventude que se cura com pequenas doses de arrependimento e umas aplicações exteriores de experiência.
Velhice: aquele período da vida no qual ajustamos os vícios que ainda temos, maculando aqueles que já não conseguimos satisfazer.
Passatempo: um dispositivo para promover a depressão. Exercício suave para a debilidade intelectual.
Fé: crença, não baseada em provas, no que é contado por alguém que fala sem conhecimento de coisas sem paralelo.
Virtudes: certas abstinências.
As calamidades são de duas espécies: a desgraça que nos acontece e a sorte que acontece aos outros.
Imaginação: um armazém de fatos gerido em parceria pelo poeta e pelo mentiroso.
Economia: aquisição do barril de uísque de que não precisamos pelo preço da carne de vaca que não podemos nos dar ao luxo de comprar.
Religiosidade: reverência pelo Ser Supremo, baseada na Sua suposta semelhança com o Homem.
Prudente: um homem que acredita em dez por cento daquilo que ouve, em um terço daquilo que lê e em metade daquilo que vê.
Perseverança: uma virtude modesta com a qual a mediocridade atinge um sucesso inglório.
Ódio: um sentimento apropriado para as ocasiões em que se revela a superioridade de outra pessoa.
Lógica: a arte de pensar e raciocinar em estrita conformidade com as limitações e incapacidades da incompreensão humana.
Orgulho: recusarmo-nos a pagar a conta do alfaiate porque ele nos tratou por Senhor - e não por Doutor.
Cortesia: pedir desculpa a um indivíduo por estar no meio do caminho e ter sido alvejado por uma bala que ele disparou para acertar outra pessoa. A forma mais aceitável de hipocrisia.
Ousadia. Uma das qualidades mais notáveis de um homem em segurança.
Desprezo: o que um homem prudente sente por um inimigo demasiado temível para que ele o faça frente.
Mentiroso: viciado em retórica.
Juramento: no Direito, um apelo solene à Divindade, que pesa mais na consciência por existir uma pena para o perjúrio.
O conhecimento é a pequena porção da ignorância que arrumamos e classificamos.
Oposição: na política, partido que impede o Governo de andar para aí aos pinotes, o amputando.
Intimidade: uma relação entre dois tolos, providencialmente atraídos para a sua mútua destruição.
Privilégio: ser autorizado a respirar, sem ter de subornar alguém primeiro.
Pateta: uma pessoa pouco elegante e com uma tendência excessiva para tropeçar nos próprios pés.
Quantidade: uma boa substituta da qualidade, quando se tem fome.
Oportunidade: uma ocasião favorável para agarrar uma desilusão.
Júri: um conjunto de pessoas designadas pelo tribunal para ajudar os advogados a evitar que a lei degenere e se transforme em justiça.
Ladrão: nome vulgar para um indivíduo com sucesso em obter a propriedade dos outros.
Oratória: uma conspiração entre o discurso e a ação para enganar a inteligência. Uma tirania atenuada pela estenografia.
Trabalho: um dos processos através dos quais A cria riqueza para B.
Patriota: indivíduo a quem os interesses de uma parte parecem superiores aos interesses do todo. O joguete dos estadistas e a ferramenta dos conquistadores.
Ingratidão: uma forma de amor-próprio que não é inconsistente com a prática de aceitar favores.
Direito: autoridade legítima para ser, fazer, ou ter; como o direito a ser rei, o direito a fazer mal ao próximo, o direito a ter sarampo, entre outros.
Princípio: uma coisa que demasiadas pessoas confundem com «interesse».
Vaidade: homenagem de um palerma ao primeiro imbecil que aparece.
Erudição é a poeira sacudida de um livro para dentro de um crânio vazio.
História: um relato geralmente falso de acontecimentos geralmente fúteis, contados por governantes geralmente velhacos e soldados geralmente tolos.
Eloquência é a arte de persuadir oralmente os tolos de que o branco é a cor que parece ser. Inclui o dom de fazer qualquer cor parecer branca.
Cristão. Alguém que acredita que o Novo Testamento seja um livro inspirado por Deus, admiravelmente adaptado às necessidades espirituais do seu próximo.
O que vale a pena fazer vale a pena o trabalho de pedir a alguém para o fazer.
Linguagem: a música com a qual encantamos as serpentes que guardam os tesouros dos outros.
Pederneira. Substância muito usada no fabrico de corações humanos.
Difamar: mentir acerca de outra pessoa. Dizer a verdade acerca de outra pessoa.
Fale quando estiver com raiva e fará o melhor discurso de que se arrependerá.
Esquecimento: um dom concedido por Deus aos devedores, para compensar o fato de serem destituídos de consciência.
Nada é mais lógico do que a perseguição. A tolerância religiosa é uma espécie de falta de fé.
Litígio: uma máquina na qual se entra como um porco e se sai como uma salsicha.
Gratidão: um sentimento que se situa a meio caminho entre um benefício recebido e um benefício esperado.
Hospitalidade: virtude que nos obriga a alimentarmos e alojarmos certas pessoas que não precisam de alimentos nem de alojamento.
Diabo: o autor de todos os nossos infortúnios e proprietário de todas as coisas boas deste mundo.
Absurdo: afirmação ou convicção manifestamente contrária à nossa própria opinião.
Juiz: uma pessoa que está constantemente a interferir em discussões pelas quais não tem qualquer interesse pessoal.
Destino: aquilo que autoriza os crimes do tirano e serve de desculpa para os fracassos do idiota.
Angústia: uma doença provocada pela exposição à prosperidade de um amigo.
Rebelde: o proponente de uma nova desordem que não conseguiu estabelecer.
A amizade é um navio suficientemente grande para levar duas pessoas com tempo bom, mas apenas uma com tempo mau.
Caluniar: dizer tudo o que achamos sobre um homem quando ele não consegue nos achar.
Agradar: colocar os alicerces para uma superestrutura de imposição.
Injustiça: de todos os fardos que depositamos nos outros e que carregamos nós próprios, é o mais leve nas mãos e o mais pesado nas costas.
Arrependimento: um sentimento que raramente incomoda as pessoas antes de começarem a sofrer.
Recompensa: ingratidão.
Religião: uma filha da Esperança e do Medo, que explica à Ignorância a natureza do Desconhecido.
Fugir: trocar os perigos e inconveniências de uma residência fixa pela segurança e o conforto da viagem.
Paraíso: um sítio onde os maus deixam de nos aborrecer com os seus assuntos pessoais, e os bons ouvem atentamente quando contamos os nossos.
Só: em má companhia.